Descrição
A motivação em estudar as utopias medievais decorre, justamente, do desejo de
perceber como a crítica ao presente histórico gerou fantasias ou colocadas no próprio
presente, mas em outro espaço, ou colocadas no próprio espaço, porém em outro tempo.
Quais foram tais devaneios, tais ideais, tais projetos? Qual sua função? Há mais de um
século, Émile Durkheim observou que toda sociedade nasce e se refaz periodicamente
a partir de um modelo considerado perfeito, por isso “a sociedade ideal não está fora da
sociedade real, faz parte dela”, toda sociedade é constituída, antes de tudo, “pela ideia
que faz de si mesma”. A verificação dessa hipótese pouco foi, contudo, feita em relação
à Europa medieval, mesmo se no último meio século a historiografia especializada tem
buscado prismas inovadores na tentativa de uma reconstrução tão detalhada e refinada
daquela região naquela época quanto possível nos limites da documentação e dos métodos
de trabalho próprios às ciências humanas. Se amplos e tradicionais temas – política,
economia, sociedade, literatura, artes plásticas, religião – não foram, e não devem ser,
abandonados, passaram a merecer olhar diferente. Bernard Guenée, por exemplo, percebeu
em 1980 que “a vida e a solidez dos Estados depende menos de suas instituições
que das ideias, dos sentimentos e das crenças dos governados”. Passadas, porém, quase
quatro décadas desde aquela arguta observação, ainda não se incluiu no medievalismo o
estudo sistemático das utopias.
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